Dia Mundial do Sono - 19 março 2021

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Maria-Emilia-Monteiro-199x300 Laboratório de Emília Monteiro e Sofia Pereira - Translational Pharmacology

A Hipertensão Arterial é o principal fator de risco com potencial preventivo para doenças cardiovasculares. A hipertensão aumenta o risco de acidente vascular cerebral e enfarte do miocárdio, que pode ser fatal ou implicar grande perda de mobilidade e autonomia. Portanto, os esforços devem ser focados em intervenções precoces para prevenir lesões irreversíveis.
O advento dos bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona na década de 70-80 constituiu uma melhoria significativa no tratamento da hipertensão. Este sistema regula, juntamente com a adrenalina, a contração e o envelhecimento das artérias e a retenção de líquidos. Se o bloquearmos, as artérias ficam menos rígidas, urinamos mais e a pressão é menor. No entanto, a hipertensão resistente a estes medicamentos ainda é um grande problema.
De facto, não se sabe a causa da hipertensão “essencial” e usamos os mesmos fármacos anti-hipertensores para todos os hipertensos. No entanto, tudo indica que há diferentes mecanismos e vulnerabilidades para a hipertensão (chamados fenótipos) que deveriam ter um tratamento mais específico.
A hipertensão que resulta da síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. denominada SAOS, é a causa mais relevante de hipertensão resistente aos fármacos disponíveis e está associada a características anatómicas das pessoas e à obesidade o que dificulta o tratamento.
A SAOS caracteriza-se por muitas (mais de 15 por hora) interrupções muito curtas na respiração seguidas de hiperoxigenação para compensar. Assim, não é difícil acreditar que a hipertensão associada à apneia obstrutiva do sono ative mecanismos próprios que justificam a resistência aos medicamentos atuais.
A terapia padrão com a inflação de ar contínua nas vias aéreas (CPAP), é desconfortável para o paciente e as taxas de não adesão chegam a 50%. A efetividade do CPAP no controle da hipertensão é controversa e os pacientes mantêm os medicamentos anti-hipertensivos associados ao uso de CPAP para toda a vida.

Um dos focos de interesse do grupo de investigação liderado por Emília Monteiro e Sofia Pereira é exatamente a hipertensão que resulta da síndrome de apneia obstrutiva do sono.
Inspiramo-nos nos desenvolvimentos científicos sobre a interação entre a poluição, o clima, a microbiota (bactérias intestinais), fatores de estilo de vida e na suscetibilidade individual para desenvolver hipertensão. Esta junção de fatores atraiu a atenção da equipa de investigação para estudar a proteína AhR, uma vez que esta proteína recetora é o centro de uma rede que liga a microbiota, o ambiente e os sinais metabólicos que interagem com fatores induzíveis por falta de oxigénio (HIFs).
Molecularmente a proteína AhR é um fator de transcrição com multitarefas nas atividades de desintoxicação, imunorregulação e proliferação. A manipulação desta proteína permitiria lidar não apenas com a complexidade da hipertensão na Apneia Obstrutiva do Sono, mas também com outras co-morbilidades que contribuem para essa patologia, entre elas a obesidade, doença renal crónica, resistência à insulina. Assumimos que a falta de oxigénio crónica pela Apneia Obstrutiva do Sono, chamada hipóxia crónica intermitente, interfere com o funcionamento da proteína AhR e provoca a desregulação de mecanismos relevantes para o controle da pressão arterial.
Neste estudo, o grupo de investigação comprovou a eficácia anti-hipertensiva de um bloqueador do AhR, o CH223191, usando um modelo animal de hipertensão associada à Apneia Obstrutiva do Sono.
Atualmente, estes investigadores estão a trabalhar para consolidar esta evidência e perceber se poderá vir a ser utilizado em humanos para tratar a hipertensão arterial sistémica.

Saiba mais: Laboratório de Emília Monteiro & Sofia Pereira