Dia da Doença de Alzheimer 2021

[PT][EN]

Efemérides_Setembro-09

Hoje assinala-se o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, organizado pela Alzheimer's Society, e parte do Mês da Doença de Alzheimer. O tema deste ano é a Demência e como tal temos o testemunho do Professor Manuel Gonçalves Pereira, co-investigador principal do laboratório Mental Health Needs and Interventions,  incluindo o trabalho de Conceição Balsinha e Maria J. Marques, e também Luísa Alves, investigadora do laboratório Neurology: Stroke and Dementia do Professor Miguel Viana Baptista:

A demência é uma síndrome, tipicamente crónica e progressiva, envolvendo um conjunto de alterações cognitivas com impacto nas atividades diárias, declínio funcional e incapacidade relevante. Segundo a classificação da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V) enquadra-se na perturbação neurocognitiva ‘major’. A doença de Alzheimer (pura ou em combinação) representa 40-80% dos casos de demência (para saber mais: OMS ou Alzheimer’s Disease International). Podemos estimar em mais de 200.000 as pessoas com demência em Portugal (350 000 em 2050, projeçõeses da Alzheimer Europe). Recentemente, o CEMBE/FMUL avaliou os custos da doença de Alzheimer, para 2018, em dois mil milhões de euros (1% do PIB). Várias equipas do CEDOC da NOVA Medical School dedicam-se à investigação clínica, epidemiológica e de serviços nesta área.

No Comprehensive Health Research Centre, o grupo liderado por Manuel Gonçalves Pereira tem estudado os aspetos psicossociais da demência: causada por doenças orgânicas cerebrais, as vertentes psicológicas e sociais determinam também problemas graves. Por isso, as respostas dos serviços devem integrar componentes psicossociais, cobrindo as necessidades mais frequentes de cuidados. Um projecto EU-JPND – Actifcare – centrou-se nas dificuldades de acesso e utilização do apoio domiciliário e centros de dia, implicando necessidades não cobertas e menor qualidade de vida de doentes e familiares.

Maria Marques, mestre em saúde e envelhecimento e doutoranda na FCM-UNL, interessou-se pela qualidade da relação entre pessoas com demência e seus familiares, enquanto fator promotor e protetor da saúde. A qualidade desta relação ajuda a enfrentar muitos dos desafios associados à demência, adotar estratégias construtivas e atenuar aspetos negativos como a sobrecarga e o sofrimento do cuidador. Facilitando a utilização dos serviços, poderá ainda atrasar muitas institucionalizações.

Nesta linha, o grupo tem investigado as intervenções com famílias e colaborado com a Alzheimer Portugal em trabalho desenvolvido pela Associação (apoio aos cuidadores informais, grupos psicoeducativos).

Doentes e familiares precisam de ajuda em sistemas de saúde e sociais ainda relativamente inóspitos, apesar das melhorias. Isto passa-se dos cuidados de saúde primários à referenciação para consultas de Neurologia ou Psiquiatria, em serviços de urgência ou internamentos em hospitais gerais (por infeções intercorrentes, operações, etc.), em cuidados continuados ou paliativos e situações terminais. Sendo crucial o terceiro sector, o grupo tem-se focado no papel que os cuidados primários devem desempenhar. Entre outras razões, pela proximidade e porque o médico de família observa o doente como um todo: se alguém tem, como é frequente, demência e diabetes em simultâneo, e se um dos problemas prejudica a gestão do outro, há que buscar respostas integradas.

Conceição Balsinha, assistente graduada de Medicina Geral e Familiar, interessou-se pela demência em cuidados primários. No seu trabalho de doutoramento na FCM-UNL, explorou as perspetivas dos utilizadores destes serviços e das equipas. Estas ainda não estão preparadas para implementar as recomendações relativas à demência: os profissionais necessitam desenvolver competências específicas, o papel dos enfermeiros precisa ser definido e o apoio comunitário deve ganhar abrangência. Este trabalho motivou outro projecto (Dementia in primary care: The patient, the carer and the doctor in the clinical encounter; bolsa Bayer/NOVA Saúde Ageing 2018), sobre as dinâmicas da comunicação envolvendo estas tríades em consultas de Medicina Geral e Familiar e a sua influência nos resultados clínicos.

Além da investigação fundamental e dos serviços à comunidade, o CEDOC-NMS tem estudado a epidemiologia das perturbações neuropsiquiátricas no envelhecimento, colaborando com o 10/66 Dementia Research Group. Em amostras populacionais portuguesas com 65 anos ou mais, as estimativas da prevalência demência rondaram 9.2%, enquanto para a depressão com significado clínico (merecendo resposta dos serviços) rondaram 18%. A depressão é um fator de risco para desenvolver demência, mas também sobrevém como complicação frequente destes quadros.

Noutra equipa do CEDOC-NMS, coordenada por Miguel Viana Baptista (Neurology: Stroke and Dementia), Luísa Alves (assistente hospitalar graduada de Neurologia, co-responsável pela consulta de doenças da cognição do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental) tem-se dedicado a estudar a transição, para Demência, do Défice Cognitivo Ligeiro (DCL). No DCL, mantém-se a independência nas atividades de vida diária. A avaliação neuropsicológica tem um papel no diagnóstico e no prognóstico, sendo fundamental nesta área da investigação clínica. A equipa estudou, recentemente, os preditores neuropsicológicos da estabilidade do DCL, como é o caso de alguns testes de memória e de abstração não verbal, realçando-se a estabilidade de parte dos doentes a longo prazo. Algumas medidas neuropsicológicas podem também contribuir para estimar o tempo de conversão para demência, em indivíduos com DCL devido a doença de Alzheimer.

GP

Da esquerda para a direita: M.M. Gonçalves Pereira, Conceição Balsinha, Maria J. Marques, Luísa Alves

Como parte do Dia Mundial da Doença de Alzheimer partilhamos também dois artigos científicos publicados pelo laboratório da investigadora Cláudia AlmeidaNeuronal Trafficking in Aging, que evidenciam a contribuição da ciência fundamental no conhecimento mais profundo que agora temos desta doença. Leiam tudo AQUI.