Press Release | 29 December 2015

29 December 2015 | Estudo desenvolvido por equipa de investigadores do CEDOC-NMS|FCM revela novas informações sobre os mecanismos por trás da doença de Parkinson

Foi recentemente publicado na revista científica Human Molecular Genetics um estudo liderado por dois investigadores do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School|Faculdade de Ciências Médicas, Sandra Tenreiro e Tiago Outeiro, que descreve o efeito de uma proteína, a beta-sinucleína, até agora pouco valorizada no contexto da doença de Parkinson.
Ao longo do tempo, a investigação desta doença centrou-se fundamentalmente nos mecanismos de ação de uma outra proteína, a alfa-sinucleína. Neste estudo, os cientistas demonstram que uma proteína da mesma família, a beta-sinucleína, poderá ter também um papel importante no desenvolvimento desta doença degenerativa.
Durante este trabalho foram estudadas duas proteínas da família da alfa-sinucleína: a beta- e a gama-sinucleína. No entanto, apenas a proteína beta apresentou um efeito comparável à proteína alfa, enquanto a proteína gama não apresentou efeito significativo nos modelos de estudo utilizados. A novidade do estudo foi que a proteína beta-sinucleína também pode ser tóxica para as células e que os alvos celulares desta toxicidade são semelhantes aos conhecidos para a proteína alfa. Para além disso, estas duas proteínas (alfa- e beta-sinucleína) são capazes de se ligar entre si, o que produz um efeito aditivo e se pode traduzir numa maior predisposição para a doença de Parkinson.
“Quase 200 anos depois da descoberta desta doença continuamos sem cura para estes doentes”, referiu a investigadora Sandra Tenreiro. “O desenvolvimento de terapias eficazes passa por primeiro entender os mecanismos moleculares que estão na origem da doença”, explica Tiago Outeiro. Até agora, era sabido que a formação de aglomerados da proteína alfa-sinucleína no cérebro é um aspeto central na doença. Os neurónios afetados acabam por morrer o que dificulta a transmissão de mensagens no cérebro e o controlo do movimento, levando ao aparecimento da doença. No entanto, “o papel da proteína beta-sinucleína na doença não tem sido tão explorado”, reforça Sandra Tenreiro. Assim, à luz destas evidências, torna-se imperativo que os detalhes da sua forma de ação sejam mais investigados.
Este estudo foi iniciado utilizando um modelo celular simples, o conhecido fungo utilizado na fermentação da cerveja, do vinho, ou pão (levedura) e foi continuado em linhas celulares humanas em laboratório. “A vantagem destes modelos é que nos permitem avançar muito mais rapidamente para outros modelos mais complexos e mais próximos do homem”, explica Tiago Outeiro.
Para o investigador Tiago Outeiro, “mais do que demonstrar a toxicidade da proteína beta-sinucleína, o nosso estudo abre portas a novas perguntas e relembra-nos que há ainda muito a fazer para se compreender a base molecular destas doenças a que chamamos sinucleinopatias”, e onde se enquadra a mais conhecida, a doença de Parkinson.
A doença de Parkinson afeta cerca de 20 mil pessoas em Portugal, e muitos milhões por todo o mundo. Os números têm aumentado muito devido ao envelhecimento da população, e não tem ainda cura, o que acarreta custos sócio-económicos cada vez mais elevados.

Cell and Molecular Neuroscience Lab.

Tenreiro S, Rosado-Ramos R, Gerhardt E, Favretto F, Magalhães F, Popova B, Becker S, Zweckstetter M, Braus GH, Outeiro TF (2015) Yeast reveals similar molecular mechanisms underlying alpha- and beta-synuclein toxicity. Hum Mol Genet. 2015 Nov 18. pii: ddv470.