Press Release |06 December 2016
06 Dezembro 2016 | Descobertos novos mecanismos moleculares que levam ao desenvolvimento da Doença de Alzheimer
Acaba de ser publicado um artigo na revista científica EMBO Reports que revela a descoberta do mecanismo pelo qual dois genes aumentam o risco de desenvolvermos a doença de Alzheimer. A descoberta foi feita por uma equipa de investigadores do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School|Faculdade de Ciências Médicas, liderada por Cláudia Almeida.
Com base num estudo genético que identificou vários fatores de risco que levam à doença de Alzheimer, os investigadores do CEDOC-NMS|FCM decidiram estudar dois e perceber qual o seu mecanismo de atuação na progressão desta doença que afeta 1 em 10 pessoas com mais de 65 anos. Os dois genes correspondem a duas proteínas reguladoras do tráfego intracelular, denominadas Bin1 e CD2AP.
Em 2013 o tráfego intracelular teve grande destaque quando o Nobel da Medicina foi atribuído a 3 cientistas responsáveis por decifrar o sistema de transporte essencial nas células. As células estão internamente divididas em compartimentos celulares individualizados que comunicam entre eles através de vesiculas, como os chamados endossomas, para desempenhar as duas variadas funções. A doença de Alzheimer não é exceção e defeitos neste sistema de transporte são cruciais para o desenvolvimento desta doença.
Na doença de Alzheimer há acumulação de uma substância tóxica para os neurónios, chamada beta-amiloide, que leva à morte destas células. Portanto, para investigar o papel dos dois fatores de risco, os investigadores avaliaram o impacto destes fatores na acumulação de beta-amiloide nos neurónios. Para haver produção e acumulação de beta-amiloide duas moléculas tem que se juntar no interior de um endossoma, uma molécula chamada APP e outra chamada BACE1.
Este estudo revelou que que Bin1 e CD2AP são essenciais para controlar a produção de beta-amilóide e portanto a progressão da doença de Alzheimer. Especificamente, este grupo de investigadores descobriu que o fator CD2AP regula a localização da APP no interior do endosoma, enquanto Bin1 regula a saída de BACE1 do endossoma. Portanto, na ausência de cada um destes fatores, as moléculas de APP encontram-se no endossoma originando beta-amiloide, o que leva ao desenvolvimento da doença de Alzheimer.
A estrutura dos neurónios pode ser dividir em três partes principais: as dendrites – que recebem informação, o corpo – que processa a informação e os axónios – que transmite a informação para o neurónio seguinte ou para outra célula. Esta investigação descobriu que, apenas nos neurónios, o Bin1 atua nos axónios enquanto o CD2AP atua nas dendrites.
A equipa liderada pela Cláudia Almeida foi estabelecida graças ao programa Investigador FCT (agora extinto) e principalmente realizada por um post-doc francês Florent Ubelmann, financiado por uma bolsa de post-doc concedida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. O projeto foi possivel graças ao financiamento pelo programa europeu de re-integração de investigadores no seu país (Marie Curie Re-integration grant), que contrariou, até ter acabado em 2013, a fuga de cérebros deste pais. Permitindo que Cláudia Almeida voltasse a Portugal após um período de 11 anos a trabalhar em Paris e Nova Iorque.
Investigador Responsável: Cláudia Almeida de Neuronal Trafficking in Aging Lab
Artigo original: Bin1 and CD2AP polarise beta-amyloid endocytic generation of beta-amyloid. Embo Reports. 2016.