PRESS RELEASE | 19 MAY 2017

19 May 2017 | Investigadores do CEDOC-NMS|FCM dão mais um passo na compreensão das causas da Doença de Parkinson e descobrem novo alvo terapêutico

Tiago Outeiro, investigador principal do CEDOC-NMS|FCM (Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School|Faculdade de Ciências Médicas), liderou um estudo onde se demonstrou que determinados açúcares reagem com uma proteína chave na doença de Parkinson (alfa-sinucleína), induzindo a degeneração de neurónios, e reduzindo a atividade motora em modelos laboratoriais. Ao inibir o efeito desses açúcares, foi possível prevenir a toxicidade da alfa-sinucleína e, deste modo, restaurar a capacidade motora do modelo estudado (a mosca da fruta). Este estudo, desenvolvido por uma equipa internacional multidisciplinar, foi publicado na prestigiada revista científica Brain, ilustrando assim um novo possível alvo terapêutico no combate à doença de Parkinson.

Os açúcares, quando estão em concentrações elevadas, podem reagir quimicamente com proteínas numa reação denominada de glicação. A equipa do investigador Tiago Outeiro constatou que esta reação da alfa-sinucleína se encontra aumentada nos cérebros dos pacientes, e aumenta com o envelhecimento. Utilizando modelos celulares e animais de laboratório, como a mosca da fruta e ratinhos, os autores demonstraram que a glicação exerce um efeito negativo na função da alfa-sinucleína. Eleva os seus níveis, potencia a sua agregação e com isso induz neurotoxicidade. Utilizando fármacos que inibem a glicação, a equipa demonstrou uma redução da acumulação e agregação da alfa-sinucleína, o que se traduz numa diminuição da sua toxicidade.

Com estes resultados, os investigadores acreditam no potencial farmacológico da inibição da glicação na doença de Parkinson. “Uma vez que a glicação afeta não só a alfa-sinucleína, mas também uma proteína chave na doença de Huntingon, o uso de agentes anti-glicação pode atenuar ou reverter os efeitos tóxicos destas proteínas, e contribuir deste modo para uma nova terapia que abrange várias doenças neurodegenerativas”, confirmou Hugo Vicente Miranda, primeiro autor do estudo. Como o conhecimento sobre os mecanismos moleculares que desencadeiam a Doença de Parkinson e outras sinucleinopatias (doenças associadas à acumulação e agregação da proteína alfa-sinucleína no cérebro) ainda é limitado, esta descoberta constitui um avanço importante nesta área.

Recentemente Tiago Outeiro e a sua equipa publicaram um outro estudo na revista PLoS Biology, que ilustra um novo caminho no combate à doença de Parkinson. Nesse estudo, revelaram que ao inibir a proteína sirtuina 2 (proteína relacionada com o envelhecimento), se protegia contra a toxicidade da alfa-sinucleína. Esta equipa dá assim mais um passo importante para a compreensão das causas da doença e para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para doenças neurodegenerativas.

A Doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva conhecida principalmente pelas manifestações motoras tais como o tremor em repouso, rigidez muscular e dificuldade na iniciação de movimentos. A progressão da doença torna-se altamente debilitante, uma vez que os pacientes perdem a sua autonomia, e afeta principalmente a população mais sénior. Nos nossos hospitais são diagnosticados cerca de 1800 novos casos por ano, e estima-se que em Portugal a doença afete cerca de 18 mil doentes. Este número tende a aumentar dado o envelhecimento da população, pelo que constitui um grave problema para a sociedade.

A investigação foi financiada pela entidade nacional, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), e por diversas entidades internacionais. A revista Brain é a terceira revista mais conceituada na área de Neurologia.

Investigador Responsável: Tiago Outeiro de Cell and Molecular Neuroscience Lab

Artigo original: Glycation potentiates α-synuclein-associated neurodegeneration in synucleinopathie
Brain. 2017 Apr 10. doi: 10.1093/brain/awx056